Odin Teatret e a visão além do imediato

Diversos pontos de uma trajetória criativa são afetados por buracos negros, entidades que sugam nossas energias e tornam significativas — e gratificantes, e frustrantes, e depressivas, e niilistas, e outras coisas — as empreitadas que nos propomos a fazer. Esses momentos são também importantes pontos de apoio, que nos colocam diante de um possível reconhecimento para o que fazemos e a idéia de que somos de fato importante para o contexto em que nos inserimos deliberadamente.

Esses mesmos momentos são também os momentos que nos fazem pensar e julgar se a coisa que se faz por ora é a melhor coisa a se fazer, especialmente quando a resposta não é a que queremos ouvir. Tudo bem, prezado leitor, eu sei que estou parecendo um autor de livro de auto-ajuda, mas não é bem por aí!

Eis o meu ponto: em outubro de 1964 o hoje prestigiado diretor Eugenio Barba, importante personagem na antropologia teatral, fundou o Odin Teatret, um grupo formado por jovens atores que haviam sido reprovados no teste de admissão para a Escola Estadual de Teatro de Oslo. Esse grupo se tornou uma das principais trupes teatrais da segunda metade do século XX, por sua fundamental importância no contexto da antropologia teatral de Barba, como canal de difusão e experimentação de novas idéias para a cena contemporânea, entre outras múltiplos predicados que se poderia tecer a respeito desse grupo.

A lição da Odion Teatret é justamente essa capacidade de olharmos além do imediato de uma possível recusa de nossas perspectivas momentâneas e o sentimento de frustração por uma meta não alcançada. Isso também não significa que a tal Escola Estadual de Teatro de Oslo é o que há de pior no mundo, ou que a organização das coisas é péssima, ou que o mundo é realmente algo sem sentido, etc, etc, bla, bla, bla. Simplesmente, não há espaço para todos em todos os momentos e é preciso que se criem alternativas.

Tenho ouvido diversas elocuções pouco construtivas nos últimos dias, especialmente por conta da divulgação da lista de contemplados no Prêmio Funarte de Composição Clássica. Fica a lição de Barba (perdão pela eventual figura de linguagem!).

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